...
Bwakeye !
Pedindo desculpa aos mais aficcionados pela demora da chegada deste post, vimos contar a todos como correu a nossa tão falada viagem ao Rwanda, mais precisamente a Kibeho e a Butare.
Então, partimos de Mont Sion na Sexta-feira, 4 de Julho, logo às 9h da manhã, integrados numa comitiva de 240 burundeses para, todos juntos, levarmos a Mãe Peregrina ao encontro da Nossa Senhora de Kibeho e da cidade de Butare.
Estávamos divididos em autocarros de 30 lugares, se bem que, à boa maneira burundesa, o do Eduah tinha na verdade capacidade para 25 pessoas, ao que foram 6 horas de viagem muito interessantes, as suas nádegas que o digam!
Bom, chegados a Kibeho confrontámo-nos com uma catedral que, assim como o único hotel da região, estão ainda em construção. No dia seguinte tivemos a oportunidade de falar com uma das 3 videntes de Kibeho e foi obviamente com entusiasmo que acolhemos a ideia de conhecer em carne e osso uma pessoa que falou directamente com Nossa Senhora! Ela contou-nos que quando a primeira rapariga (na altura eram raparigas de liceu ainda) viu a Virgem e contou às pessoas, ninguém acreditou e começaram a apelidá-la de maluca e a afastar-se dela. Mas com o tempo e com as outras aparições, acabaram por perceber que tinham sido injustos e hoje ninguém questiona toda a história. Nem mesmo o próprio Vaticano, já que
Kibeho tem a aprovação oficial da Igreja.
As mensagens da Virgem de Kibeho eram principalmente de rezar o terço pela conversão dos pecadores (soa familiar?), mas também de combater a hipocrisia e de trabalhar pela Paz. Além disso Ela pediu a Kibeho que lhe construísse uma catedral e uma imagem própria da região. Em algumas aparições as videntes viram imagens do genocídio que viria a acontecer no Rwanda em 1993 e no fim, depois de muito pedirem à Virgem que mostrasse a todos os outros um sinal da Sua presença, Ela acabou por mostrar um sinal do céu a todo o povo de Kibeho, através de uma estrela especial que apareceu aos olhos de todos.
Foi depois de tudo isto que partimos para Butare, a segunda cidade mais importante do Rwanda e foi incrível constatar como esta é uma cidade desenvolvida e principalmente muito ordenada, em relação à selva de Bujumbura. A verdade é que as diferenças entre Rwanda e Burundi começam a notar-se logo na fronteira. É abismal a diferença de organização e disciplina entre os dois países. Como por exemplo o facto de no Rwanda não haver practicamente corrupção, pelo menos ao nível dos polícias ou agentes do governo de níveis baixos.
E chegados a Butare confrontá-mo-nos com uma cidade muito calma, muito ordenada. Boas estradas, muitas lojas mas nada de vendedores espalhados por todo o lado nos passeios, e o próprio ambiente da cidade não tinha nada a ver com a orquestra de gritos, buzinas e barulhos de motores de Bujumbura.
No outro lado dessa mesma moeda, encontrámos um povo também muito mais reservado e calmo. A missa na catedral, com o Bispo de Butare, não teve nem de perto a animação de uma missa normal em Mont Sion. A coral cantava bem mas cantava sózinha, o resto da igreja não cantava e raramente batia palmas ou dançava. E na rua as pessoas estão cada uma no seu mundo. Não havia aquela vida que caracteriza o Burundi.
Este contraste é realmente de pasmar, uma vez que ambos os povos são muito próximos, não só geograficamente, mas em termos de língua (o Kinirwanda é practicamente igual ao Kirundi), de etnias (existem as mesmas nos dois países) e tradições.
Pelas conversas que já tivemos sobre isto percebemos que as razões das enormes diferenças estão principalmente no facto de no Rwanda ter havido um genocídio em 1993 que acabou nesse mesmo ano e desde aí tem estado em paz, enquanto o Burundi não conhece a paz e a estabilidade desde essa altura.
Mas também há um factor que é chamado a “consciência pesada do resto do mundo em relação ao genocídio", principalmente dos Estados Unidos, devido à mediatização do acontecimento. Factor este que faz com que o Rwanda receba muito mais ajudas internacionais do que por exemplo o Burundi.
Finalmente é de referir que o presidente do Rwanda, sendo um ditador, tem o país todo em sentido. Não se pode falar de política nos cafés, não se pode dizer o nome Tutsi ou Hutu. Existem – ou pelo menos toda a gente está convencido disso - agentes do governo por todo o lado, a viver a sua vida normal, mas sempre à escuta. Existem também um monte de regras pouco normais num país africano, como por exemplo o de não se poder usar sacos de plástico (só de papel) ou o de os vendedores de rua serem obrigados a usar um colete a anunciar o que estão a vender. Pequenas coisas assim que, num quadro mais amplo, tornam o país muito limpo e ordenado.
É uma moeda com dois lados e não sabemos dizer qual dos países está melhor, porque o que o Rwanda ganha (de longe) em termos de crescimento económico e desenvolvimento, perde em relação ao Burundi (também de longe) em termos da vida e calor do povo. Os Burundeses parecem ser mais felizes, mais espontâneos e mais africanos.
E pronto, por último e em relação à nossa viagem é de referir que encontrámos um supermercado que vendia croissants!! E claro que, bem ao seu jeito, o Eduah tratou de gastar todos os seus francos rwandeses a comê-los! Isto enquanto que o Françuah – também bem ao seu jeito – conseguiu guardar todos os seus francos rwandeses para voltar a trocar por francos burundeses na fronteira!
E pronto caros amigos, chegámos a Mont Sion Domingo 6 de Julho ao fim do dia, cansados, mas muito contentes com estes 3 dias de viagem!
Por agora despedimo-nos mas não percam os próximos posts, com os relatos da nossa viagem ao interior do Burundi e do nosso primeiro jogo de rugby por terras burundesas!
Turikumué
Tanganika Boys